Pioneiro no Brasil, álbum de Natal de Simone chega aos 30 anos com mais glórias e memes do que antipatias

  • 25/12/2025
(Foto: Reprodução)
Simone cria site oficial para conectar ouvintes do álbum '25 de dezembro', lançado há 30 anos Willy Biondani / Divulgação ♫ ANÁLISE ♬ Então é Natal e Simone – cantora nascida em Salvador (BA) em 25 de dezembro de 1949 – faz 76 anos às voltas com ação de marketing que revitaliza o álbum 25 de dezembro, lançado em 1995 e desde então alvo de amores e ódios. Hoje mais amores do que ódios. Sim, o álbum mais vendido da carreira da banda, título pioneiro na então escassa discografia natalina brasileira, chega aos 30 anos com mais glórias do que hate. Atentas à efeméride, a cantora e a Universal Music – gravadora que encampou em 1999 a Philips / Polygram, companhia fonográfica que editou o álbum 25 de dezembro – se uniram em ação que envolveu a criação de site (www.entaooquevocefez.com.br) para coletar histórias sobre o disco e conectar os ouvintes desse trabalho tão controvertido. Ainda alvo de memes, o álbum 25 de dezembro tem sido reavaliado nos últimos anos e, sob a benção da perspectiva do tempo, tem tido exaltados os méritos até então ofuscados por preconceitos. Mas o que ninguém conta e Simone tampouco fala em entrevistas é a razão do hate iniciado em 1995. O que aconteceu é que Marcos Maynard – executivo então no comando da gravadora Polygram e conhecido pelo marketing agressivo com que promove artistas e discos sob sua égide – orquestrou série de ações de marketing e publicidade pautadas pelo excesso para divulgar o álbum de Simone. Traduzindo em bom português: a gravadora quis empurrar o disco natalino de Simone goela abaixo do povo brasileiro. Em dezembro de 1995, era difícil não se deparar com o álbum de alguma forma, seja ligando o rádio em casa ou andando nas ruas. Se você entrasse em qualquer loja de disco, a música tocada era Então é Natal, faixa eleita para promover o álbum 25 de dezembro. Então é Natal é versão em português de Cláudio Rabello para Happy Xmas (War is over), pacifista canção natalina composta, gravada e lançada em 1971 por John Lennon (1940 – 1980) e Yoko Ono. A música carregava o espírito de Natal com mensagem de paz e união entre os povos. Como a canção ficou massificada na versão de Simone, começou o hate quando essa palavra ainda nem existia no dicionário do então incipiente mundo digital. Para piorar a situação, a divulgação ostensiva na mídia dos resultados comerciais do disco contribuiu para a sensação de que o marketing em torno do álbum 25 de dezembro era da mesma dimensão do sucesso do disco. Essa necessidade de afirmação na mídia do sucesso de 25 de dezembro fez com que parte do público e críticos (como este colunista) tivessem certa antipatia e má vontade com o disco naquele momento para escapar do assédio. É preciso contextualizar para entender que todo esse marketing ostensivo não aconteceu em vão. Havia muita coisa em jogo no lançamento do álbum. Campeã de vendas da CBS nos anos 1980, Simone saiu meio por baixo da gravadora – então já denominada Sony Music – em 1995, ano em que a cantora se transferiu para a PolyGram, acolhida por Maynard. Era questão de honra para cantora e para o executivo que o álbum se transformasse em um retumbante sucesso de vendas. Nessa fogueira de vaidades, quem ardeu em chamas foi o disco, que ganharia em 1996 uma faixa-bônus, a regravação de Ave Maria (Vicente Paiva e Jayme Redondo, 1950) com o coro das Meninas Cantoras de Petrópolis, música desde então incorporada ao repertório de clássicos natalinos. Foi preciso que o tempo – eterno senhor da razão – apagasse essa fogueira para que o álbum fosse reavaliado sem paixões e sem a fúria gerada em dezembro de 1995. Orquestrado com produção musical de Max Pierre e Moogie Canazio a partir de ideia proposta por Simone ao executivo Marcos Maynard (consta que a cantora teve a ideia ao se deparar com diversos álbuns natalinos em loja de discos de Nova York e intuir que discos do gênero poderiam dar certo no Brasil), o álbum 25 de dezembro acertou ao reavivar então esquecida canção de Roberto Carlos e Erasmo Carlos (1941 – 2022), Pensamentos (1982), que se afinava com o espírito de Natal. Clássico da dupla de compositores sempre presente nos shows de Roberto, o spiritual Jesus Cristo (1970) também ressurgiu no disco de Simone com coro de tom gospel. A cantora também deu voz standards natalinos como Sino de Belém / Jingle bells (James Pierpont, 1857, em versão em português de Evaldo Ruy, 1941), Natal das crianças (Blecaute, 1955), O velhinho (Otávio Babo Filho, 1954) – cantado por Simone no devido tempo de delicadeza – e Noite feliz (1912), versão em português – escrita pelo frade Pedro Sinzig (1876 – 1952) – da canção austríaca Stille nacht (Franz Gruber e Joseph Mohr, 1818), conhecida em inglês como Silent night. Versão em português de White Christmas (Irving Berlin, 1942), escrita pelo compositor fluminense Marino Pinto (1916 – 1965), Natal branco (1956) ganhou as cores de arranjo que evocava a era norte-americana das big bands do jazz. Em contrapartida, resultou desafinada a ideia de reviver a tristonha marcha Boas festas (Assis Valente, 1933) com o baticum do grupo baiano Timbalada. O tom expansivo da gravação diluiu o sentimento da letra, contrariando a natureza melancólica de versos que denunciavam a injustiça social evidenciada no Brasil a cada Natal em que umas crianças têm tudo e outras têm nada. Que maravilha viver... – versão em português de Claudio Rabello de What a wonderful world (1967), último sucesso do trompetista e cantor Louis Armstrong (1901 – 1971) – completou o repertório deste álbum que, aos 30 anos de vida, já gera mais simpatia do que antipatia. Até porque as ações massificantes para vender o álbum ficaram esquecidas ao longo desses 30 anos. Apagada a fogueira das vaidades, a música sempre sobrevive ao marketing. Capa do álbum ‘25 de dezembro’, de Simone Divulgação

FONTE: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2025/12/25/pioneiro-no-brasil-album-de-natal-de-simone-chega-aos-30-anos-com-mais-glorias-e-memes-do-que-antipatias.ghtml


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