'Zootopia 2' estreia 9 anos depois do 1º: Como 'Encanto' ajuda a explicar demora da continuação
27/11/2025
(Foto: Reprodução) Assista ao trailer de 'Zootopia 2'
Quando um filme faz US$ 1 bilhão nas bilheterias, é natural que todo mundo pense que uma continuação não deve demorar. Por isso, muita gente não consegue entender o motivo pelo qual "Zootopia 2" levou mais de nove anos para ser lançado, depois do sucesso estrondoso da animação original em 2016.
O novo filme da Disney estreia nesta quinta-feira (27) nos cinemas brasileiros como uma sequência direta da história sobre a parceria entre uma policial coelho e um malandro raposa, que conquistou o público ao redor do mundo há quase uma década.
Por que, então, demoraram tanto para desenvolver um novo capítulo? Lançada alguns meses depois do primeiro "Zootopia", "Moana: Um mar de aventura", por exemplo, ganhou uma continuação em 2024.
A explicação tem a ver com o tempo de produção de uma animação do tipo – e com outro sucesso do estúdio.
"O que as pessoas talvez não percebam é que nós três literalmente tivemos que terminar 'Encanto'. Estávamos loucos para voltar para "Zootopia", mas queríamos encerrar 'Encanto' direito", diz Jared Bush em entrevista ao g1.
Promovido ao posto de diretor criativo do estúdio de animação da Disney em 2024, ele foi um dos diretores do primeiro filme, do musical de 2021 e se reencontra com Byron Howard para comandar a sequência.
"É frustrante às vezes porque, se você vê nossos currículos, são curtíssimos."
"Cinco filmes. Aí você olha o pessoal de live-action e são páginas e páginas", brinca Howard.
Cena de 'Zootopia 2'
Divulgação
"Eles perguntam: 'O que vocês fizeram esse tempo todo?'. E a gente responde: 'Trabalho duro'. Eles não entendem. (risos) Vou chorar por isso pelo resto da carreira."
Na entrevista, a dupla, junto da produtora Yvett Merino, fala sobre as escolhas do animal ideal para cada personagem, as dinâmicas entre os protagonistas, o começo lento feito de propósito para pegar o público desprevenido e a demora do novo "Zootopia".
Leia abaixo, editada para clareza:
g1 - Por que demorou tanto para fazerem uma continuação, já que o filme foi tão enorme em 2017? E isso tem a ver com a Disney, como empresa, estar mais aberta agora a grandes continuações cinematográficas?
Jared Bush - Engraçado, porque uma coisa não tem relação com a outra. O que as pessoas talvez não percebam é que nós três literalmente tivemos que terminar "Encanto". Estávamos loucos para voltar para "Zootopia", mas queríamos encerrar "Encanto" direito.
Nossos filmes levam quatro a seis anos para serem feitos — é o tempo normal de uma animação da Disney. Pensamos em continuações desde o primeiro filme, porque Zootopia é um lugar enorme, onde você pode pôr a câmera em qualquer canto e encontrar uma história.
E sou muito grato pelo tempo que tivemos, porque a história que queríamos contar — essa relação entre Nick e Judy — talvez não desse o mesmo filme cinco anos atrás. E eu amo esse filme, não consigo imaginar outra versão.
Byron Howard - Exato. E é frustrante às vezes porque, se você vê nossos currículos, são curtíssimos. Cinco filmes. Aí você olha o pessoal de live-action e são páginas e páginas. Eles perguntam: "O que vocês fizeram esse tempo todo?" E a gente responde: "Trabalho duro". Eles não entendem. (risos) Vou chorar por isso pelo resto da carreira.
g1 - Cada pessoa que assiste a um filme como esses pode entender uma mensagem. Para alguns, pode ser sobre preconceito com imigrantes ou pessoas diferentes. Sobre o que é este filme para cada um de vocês?
Jared Bush - Acho que a nossa intenção era mergulhar de verdade nos nossos protagonistas, Nick e Judy, e contar uma história sobre a continuidade da parceria deles — e fazer isso através das diferenças entre eles.
No primeiro filme, falamos muito sobre preconceito e estereótipos. Queríamos continuar essa jornada, mas com os dois bem no centro, fazendo a pergunta: dois animais tão diferentes — não só porque um é coelho e o outro é raposo, mas porque enxergam o mundo de maneiras distintas — conseguem mesmo funcionar como parceiros a longo prazo? Para mim, é disso que este filme trata.
Byron Howard - Seguindo nessa linha, acho que nós três somos um bom exemplo, porque somos um time bem específico. Eu e Jared somos bons em coisas diferentes e contamos um com o outro porque sabemos que o outro tem forças que talvez eu não tenha. Algo que parece um obstáculo no começo pode virar seu maior benefício.
E é isso que eu amo na Disney Animation: temos nosso grupo aqui em Burbank e outro em Vancouver, mas somos uma equipe só. Somos pessoas muito diferentes, e precisamos entender que essas diferenças nos tornam um grupo de contadores de histórias muito forte. Sem isso, tudo desmoronaria.
Então, acho que o filme é sobre isso também — ver Nick, Judy, Gary e Nibbles, personagens muito diferentes, encontrarem suas forças e seguirem juntos. Pra mim, é sobre força nas diferenças.
Cena de 'Zootopia 2'
Divulgação
Yvett Merino - Concordo totalmente com o que o Jared e o Byron disseram. Tudo começa pelos personagens e pela relação entre Judy e Nick — como ela evolui e como é testada com a chegada de outros personagens. Esse é o núcleo da história: levar essa relação a um novo nível, aprender coisas novas um sobre o outro e aceitar isso.
g1 - Quando vocês decidiram seguir por esse caminho — o tema dos répteis e cobras se relacionando com a cidade, algo que lembra estrangeiros chegando a um lugar novo? É um tema bem atual. Quando isso virou o eixo da evolução entre os protagonistas?
Byron Howard - Vou começar com uma mini anedota. Quando nós três estávamos terminando "Encanto", o filme nem estava pronto ainda, o Jared bateu no meu ombro. Quando virei, ele tinha um bloquinho com um desenho escrito "Zootopia 2", e o número 2 era uma cobra. Então, muito cedo — não sei por quê — ele já pensava nisso.
Nós já tínhamos comentado no primeiro filme que existiam répteis e outras espécies naquele mundo, mas o longa era só sobre mamíferos. E o fato de ele já ter essa ideia lá atrás abriu caminho para tudo que veio depois.
Jared Bush - Pois é. Essa ideia de uma cidade de mamíferos que não está acostumada a répteis… ao longo do filme entendemos o porquê. Parece algo muito ligado ao momento atual, mas na verdade é natureza humana. Isso acontece há décadas, séculos: quando encontramos alguém diferente de nós, nossa primeira reação muitas vezes é desconfiar ou criar suposições. É o que fazemos. Então queríamos contar essa história para perguntar: isso ajuda alguém? E se víssemos essas diferenças como benefícios — isso mudaria como nos sentimos?
Cena de 'Zootopia 2'
Divulgação
g1 - No começo, o filme parece seguir uma trama bem direta, alguns clichês típicos de animação, e eu fiquei cético — "acho que sei exatamente como isso termina”. Mas depois vocês fazem viradas totalmente inesperadas e os personagens ficam mais reais, mais vivos, mais humanos. O quanto disso é intencional — fazer o público achar que sabe para onde vai e depois surpreender?
Jared Bush - Engraçado, porque falamos sobre isso muitas vezes. É totalmente intencional. Quando começamos a desenvolver a história, queríamos que o público sentisse que estava numa zona confortável, que reconhecesse: “Ah, este é o 'Zootopia' que eu lembro, e eu sei qual será a história".
Queríamos que os personagens sentissem o mesmo — confortáveis — até começarmos a mudar tudo e colocar Nick e Judy em situações de extremo desconforto.
Queríamos fazer o mesmo com o público. Em histórias de mistério, é importante ter reviravoltas, mas como este é um filme sobre personagens aprendendo muito, queríamos criar essa falsa sensação de segurança para depois puxar o tapete.
g1 - E é engraçado porque quando eles passam a ser perseguidos e a polícia acha que foram eles, eu pensei: "Ok, já vi isso antes". Mas aí vocês começam a evoluir tanto as relações.
Jared Bush - Ainda bem. E já que você mencionou isso, uma coisa em que trabalhamos bastante foi garantir que a história da relação — esses momentos mais profundos — fosse a estrela do filme. Você acha que é sobre o mistério, mas o mistério, como o Byron disse, é quase o pano de fundo para essa história de personagens entre Nick e Judy — o que eles aprendem um sobre o outro e sobre si mesmos. Queríamos que isso estivesse sempre em primeiro plano.
g1 - Como vocês escolhem o animal certo para cada personagem? Começa pelo animal, pelo personagem, pela personalidade?
Byron Howard - É uma das partes mais divertidas. Há milhares de animais possíveis, então encontrar o que se encaixa perfeitamente é ótimo. Às vezes vem de surpresa. O cavalo prefeito, por exemplo, não foi ideia nossa — foi de uma das designers. Tentamos vários prefeitos: um canguru bombado, um elefante enorme… e nada parecia certo.
Aí ela disse: "E um cavalo?" E pensamos: "Ah, não sei, cavalo não parece muito interessante". Mas ela mostrou aquele cavalo — um ex-astro de ação bombado — e pensamos: "Ok, ele precisa estar no filme". Assim Winddancer virou um ponto-chave.
Yvett Merino - É uma das magias do mundo de "Zootopia". Você tem uma ideia para um personagem, experimenta diferentes animais e algo mágico acontece: o design chega, depois o modelo, depois a voz, depois a animação… e tudo se encaixa. Isso só acontece em animação. O caso do prefeito foi exatamente assim: não parecia certo, conversamos muito, até que — de repente — clicou.
Cena de 'Zootopia 2'
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